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No Hospício

“A palavra não deve ser para a alma senão um sinal misterioso, muito discreto, muito austero, muito augusto, só perceptível à visão dos espíritos. Parece mesmo uma deplorável extravagância da nossa natureza incompleta este capricho de reduzir a medida e a cadência as grandes emoções a que a alma se exalça em certos momentos.” (Rocha Pombo)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Jardim de Emiele

Havia uma estátua no jardim de Emiele. Era o monumento de estruturas mais álgidas e coalhadas de rachões dentre tantas estátuas de tantos jardins do reino. Mas aquelas fendas e defeitos eram tão perfeitos para a menina que, de tanto espiar a estátua pela janela, Emiele se enamorou!


Todo o dia de manhã a menina ia para a janela admirá-la, nem que fosse por toda uma manhã, até cansar. À tarde levava presentes, para que a estátua também se enamorasse. E à noite a jovem ouvia as histórias da estátua - julgava-se muito vivida e velha. E assim crescia o lasso entre ambos os corações. Depois de um tempo, já não havia um dia em que Emiele e a estátua conseguissem ficar longe uma da outra.



No entanto, um dia, a estátua se afastou. E Emiele nunca mais a procurou, pensando que seu grande amor a abandonara de vez. Foram dias de solidão e fuga do próprio coração. A menina fugia do próprio quintal, para não relembrar de sua estátua.



Certa vez, a estátua voltara para o Jardim e Emiele voltou a sentir-se feliz. Mas toda aquela alegria durou pouco, porque ela percebeu que a estátua tinha novas rachaduras e aos poucos estava morrendo. Emiele em desespero tentou salvá-la. Vagou pelo mundo em busca da cura, do material necessário para reconstruir as estruturas marmóreas do seu grande amor. No entanto a estátua não se importava, não queria ser salva. E um dia, desses em que a jovem mais precisava da sua companhia, a estátua desmoronou e seus restos não foram mais tocados. Emiele voltara a sua solidão de sempre.



Os cacos ficaram no jardim. E todos os dias, quem passa por lá, se pergunta por que a jovem Emiele não visita mais o jardim, pisam nos estilhaços da estátua e nem sabem que estes foram um dia o grande amor de Emeile.

By Míriam Coelho

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